O impacto do digital nas finanças

Essa mudança estrutural causada pela tecnologia do setor financeiro já influencia desde mercados financeiros até políticas públicas, e vai muito além da simples automação de processos: a conveniência, eficiência e acessibilidade que a digitalização do dinheiro trouxe redefiniu a forma como pensamos sobre bancos e o mercado financeiro no geral. A facilidade de realizar transações 24 horas por dia, até em locais remotos, tem sido vista como um divisor de águas, principalmente em regiões com poucas agências ou alta informalidade econômica.

Mas, afinal, o que são esses ativos digitais? O primeiro que surgiu foi o Bitcoin, lá em 2009. Eles são representações de valor, em formato digital, que podem ser armazenadas, transferidas e negociadas. É uma espécie de dinheiro eletrônico que não tocamos e não vemos (exceto pelos números), mas sabemos que está lá. E ele não atende pelo nome de real, dólar ou euro, por exemplo, porque não é regido por nenhum país ou órgão ou banco, mas pela tecnologia do blockchain, um tipo de banco de dados que registra transações de forma segura e transparente, que pode ser acessado por todo mundo. A confiança depositada na transparência desse sistema motivou indústrias locais a buscá-lo como alternativa de registro e pagamento.

Essa descentralização, principalmente, relacionada a serviços que antes exigiam a intermediação de grandes bancos, como pagamentos, investimentos, empréstimos e seguros, agora podem ser realizados diretamente pelos consumidores, o que representa uma mudança significativa em todo o contexto financeiro de uma região ou país. Os criptoativos, inclusive, foram citados entre os investimentos mais rentáveis em 2025.

E por esses ativos funcionarem fora do controle direto dos governos, eles não conseguem controlar quanto dinheiro está “circulando” ou como esse dinheiro é usado, como fazem com moedas tradicionais. Isso tem gerado muita discussão sobre como incluir essas novas moedas no sistema financeiro atual sem bagunçar a economia ou perder o controle sobre ela.

Os ativos digitais no Brasil

O quinto Índice Global de Adoção de Criptomoedas da Chainalysis destacou o Brasil entre os 10 países com maior adoção de criptoativos no mundo e o mais expressivo de toda a América Latina. Esse dado demonstra o interesse da população brasileira por ativos digitais, impulsionado por fatores como alta liquidez, busca por diversificação de investimentos e avanços tecnológicos no setor financeiro que trazem mais comodidade e praticidade no dia a dia.

Regiões como o Sudeste, impulsionadas por capitais como São Paulo e Belo Horizonte, concentram o maior número de investidores e fintechs voltadas para soluções digitais. Ao mesmo tempo, iniciativas públicas começam a explorar o uso de blockchain para registros e contratos, enquanto o Banco Central do Brasil prepara a implementação do Drex, o real digital.

Renato Meirelles, o presidente do Instituto Locomotiva que conduziu uma pesquisa sobre a adesão de criptomoedas no Brasil encomendada pela Binance, maior exchange cripto do mundo em volume transacionado, destacou que o maior impeditivo para o crescimento desse mercado é a falta de conhecimento. Quanto mais seguras as pessoas se sentem para investir em opções que envolvem riscos, como essa, maior a probabilidade desses ativos conquistarem espaço. Com a promessa de descentralização, segurança, eficiência e transparência, além do alto retorno financeiro, as moedas digitais chegaram para ficar.

Novos e relevantes impactos regionais

Nos centros urbanos menores, a digitalização financeira permitiu que pequenos negócios começassem a aceitar pagamentos em criptomoedas, atraindo um público jovem e antenado. Cafés, barbearias e lojas de bairro instalaram leitores de QR Code compatíveis com criptos, integrando-se a um sistema de pagamentos alternativo. Isso trouxe um fluxo de clientes mais diversificado, que não depende exclusivamente do sistema bancário tradicional.

Em cidades menores e no interior, a inclusão financeira ganhou novo impulso com o uso de carteiras digitais e criptomoedas. Jogadores de futebol amador, professores de dança, artesãos e produtores rurais passaram a aceitar pagamentos via criptos, facilitando transações sem necessidade de conta bancária. Esse fenômeno tem potencial para reduzir o gap financeiro entre áreas urbanas e rurais.

A criação de hubs regionais de inovação

Diversas cidades paranaenses, mineiras e gaúchas investiram na criação de hubs locais de inovação, com eventos, cursos e editais de apoio a projetos que usam blockchain para resolver problemas estruturais. Esses polos estimulam a emergência de startups que atuam com tokenização de ativos, contratos inteligentes e governança digital. Isso amplia o leque de soluções disponíveis para prefeituras, pequenas empresas e cooperativas.

Governos municipais também começaram a explorar o uso do blockchain em processos como licitações e transparência, reduzindo fraudes e aumentando a confiança da população. Essas experiências já inspiram movimentos replicados em outras regiões do país, reforçando efeitos positivos nas finanças locais.